
Juros do BCE em 4,5%: como fica a prestação da casa com a nova subida
O rumo da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) ficou “em aberto”, aguardando novos dados macroeconómicos. Mas, depois de se confirmar que a inflação na Zona Euro vai continuar “demasiado elevada durante demasiado tempo”, a presidente Christine Lagarde decidiu avançar com uma nova subida as taxas de juro diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira (dia 14 de setembro), elevando a principal taxa de refinanciamento para os 4,50%, o maior valor desde maio de 2001. Esta não é uma boa notícia para quem tem crédito habitação a taxa variável ou está a pensar contratar um, uma vez que a decisão do regulador europeu dará um novo estímulo à subida da Euribor e, por conseguinte, às prestações da casa.
Aquela que é décima subida das taxas de juro diretoras desde julho de 2022 foi esta quinta-feira anunciada pelo BCE, tendo sido motivada pela evolução da inflação na Zona Euro que se fixou em 5,3% em agosto, segundo os dados provisórios do Eurostat, e pelas perspetivas económicas futuras que se agravaram para 2023 e 2024.
Claro está que esta decisão tem efeitos nos vários mercados, nomeadamente no crédito habitação, arrefecendo a procura por financiamento bancário, uma vez que as condições estão “mais restritivas”, dizem ainda. Com esta nova subida dos juros, o BCE elevou a taxa de juro das principais operações de financiamento para os 4,50%, o maior valor registado nos últimos 22 anos, que irá estimular o crescimento das taxas Euribor.
Além de a decisão do BCE voltar a agravar as prestações das casas dos créditos habitação de taxa variável (ou mista em período variável), também irá aumentar a dificuldade em aceder aos empréstimos e estimular as renegociações dos créditos, bem como as amortizações antecipadas – tendências bem visíveis em Portugal.

Euribor tem novo estímulo para subir além dos 4%
Tal como antecipam os especialistas, esta nova subida das taxas de juro diretoras decidida pelo BCE vai dar um novo impulso à subida da Euribor, que poderá ficar acima dos 4%, agravando ainda mais as prestações da casa das famílias. Até porque, depois do BCE ter aumentado os juros em 25 pontos em julho, as taxas mensais da Euribor a 6 e a 3 meses voltaram a subir para 3,944% e 3,780% em agosto, respetivamente.
Já a média mensal da Euribor a 12 meses desceu ligeiramente para 4,073% em agosto. Mas, até ao momento, a taxa diária para o prazo mais longo já voltou a aumentar, estando acima dos 4,1%. As previsões dos especialistas de mercado sugerem que a Euribor a 12 meses deverá manter-se nesse nível tanto em 2023, como no próximo ano: a espanhola Funcas estima que a média anual desta taxa se vai situar em 4,25% em 2023 e 4% em 2024. E o BBVA Research não descarta a hipótese de atingir os 4,5% nos próximos meses.
Portanto, se as taxas Euribor subirem até aos 4,25%, as prestações da casa dos novos créditos habitação de taxa variável deverão aumentar para os 828 euros mensais, tal como indicam as estimativas, considerando um empréstimo de 150 mil euros, prazo de 30 anos e spread de 1%:
- Euribor a 12 meses: aqui a prestação da casa seria 17 euros superior face à prestação para um crédito habitação contratado em setembro de 2023 (811 euros), que usou média mensal da Euribor de agosto (4,073%);
- Euribor a 6 meses: neste caso a prestação agravar-se-ia em 29 euros face à calculada para um empréstimo da casa contratado em setembro (799 euros/mês);
- Euribor a 3 meses: nesta taxa a prestação ficaria 43 euros mais elevada do que a calculada para um crédito habitação contratado em setembro, cuja prestação foi de 785 euros mensais.

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Juros elevados têm impactos no crédito habitação em Portugal: quais?
Ao que tudo indica, a nova subida das taxas diretoras pelo regulador europeu vai continuar a ter impacto nos créditos habitação em Portugal à boleia da subida dos juros, reforçando várias tendências visíveis neste mercado:
- Dificuldade em aceder ao crédito habitação continua: com a subida dos juros, os bancos portugueses estão a financiar menos empréstimos para comprar casa, tal como revela o Banco de Portugal (BdP), que também já avisou que o arrefecimento da procura deverá continuar, pelo menos, até ao terceiro trimestre de 2023. Os juros e os preços das casas em alta, somados ao menor poder de compra, também colocam um travão no acesso ao crédito devido ao cálculo da taxa de esforço, que inclui o teste de stress de 3%, uma norma que deverá cair para os 1,5% em breve. Por outro lado, há também casos em que a avaliação bancária é inferior ao preço de venda, dificultando o acesso ao crédito, pois o empréstimo é concedido pela avaliação (o mais baixo dos dois), sendo preciso dar maior valor de entrada;
- Amortizações antecipadas no crédito habitação a escalar: este movimento disparou em 2023 e deverá manter-se, já que o Governo eliminou as comissões e impostos à amortização antecipada dos créditos a taxa variável e, agora, permite o resgate do Plano Poupança Reforma (PPR) para pagar a prestação ou amortizar o empréstimo. Assim as famílias conseguem baixar as prestações da casa ou até ficar livres da dívida à banca;
- Renegociações dos créditos habitação em alta: dado que há cada vez mais famílias em dificuldade em pagar a prestação da casa devido à subida dos juros, as renegociações dos créditos habitação têm vindo a subir, sobretudo depois de o Governo ter criado novas regras para renegociar os créditos;
- Procura de crédito habitação está a mudar: com a subida dos juros, as famílias estão a comprar casas mais baratas e a pedir créditos habitação de menor valor, tal como indica o relatório trimestral do idealista/créditohabitação em Portugal. Além disso, estão a dar maior valor de entrada no empréstimo e a optar cada vez mais por taxas mistas e fixas;
- Oferta de crédito habitação adapta-se (e fica mais rigorosa): com a procura de crédito habitação a descer e a mudar, os bancos tendem a adaptar a sua oferta para atrair clientes. Uma das formas é baixar o spread para créditos de risco médio. E também optam por criar ofertas de taxa mista mais atrativas, já que estão a ser mais procuradas. Por outro lado, para os empréstimos de maior risco – para famílias com menores rendimentos e garantias, por exemplo –, os bancos estão a optar por subir os spreads, de forma a evitar situações de incumprimento.
Portanto, o endurecimento da política monetária vai afetar mais as famílias com baixos rendimentos, uma vez que os altos preços das casas e dos juros, elevam as prestações para patamares incomportáveis, dificultando o acesso ao crédito habitação. Além disso, para estes casos, os bancos tendem a ser mais cautelosos em conceder empréstimos.
Qual será o rumo das taxas de juro na reunião de outubro?
O Conselho do BCE garantiu esta quinta-feira que os anteriores aumentos das taxas de juro estão a ser transmitidos de “forma vigorosa” à economia, reduzindo a procura de financiamento, “o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo [de 2%]”. Mas admitiu também que, para atingir esse objetivo, vai assegurar que “as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário”.
Os atuais níveis dos juros diretores poderão estar para ficar. Mas haverá novos aumentos na reunião agendada para o próximo dia 26 de outubro? Christine Lagarde deixou a porta aberta para que haja uma pausa na subida dos juros, mas deixou um apelo aos governos europeus. “Os governos devem continuar a retirar medidas de apoio à economia”, para reduzir as pressões inflacionistas, caso contrário poderá existir “uma reação ainda mais forte da política monetária”, frisou. Embora tenha admitido que possa pausar a subida dos juros na próxima reunião, a presidente da instituição diz que “é demasiado cedo para dizer se as taxas de juro do BCE atingiram o seu pico”.
Só os dados e as projeções macroeconómicas que vão ser conhecidas mais à frente é que vão ditar qual vai ser o rumo da política monetária a adotar: se voltará a ser mais restritiva ou se vai ficar tal e qual como está hoje.
As próximas reuniões do BCE
O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre a evolução das taxas de juro diretoras:
26 de outubro de 2023
14 de dezembro de 2023
25 de janeiro de 2024
7 de março de 2024
11 de abril de 2024
6 de junho de 2024
18 de julho de 2024
12 de setembro de 2024
17 de outubro de 2024
12 de dezembro de 2024
Fonte: https://www.idealista.pt/news/financas/credito-a-habitacao/2023/09/15/59498-juros-do-bce-em-4-5-como-fica-a-prestacao-da-casa-com-a-nova-subida