Crédito habitação: prestação da casa fica 35% mais cara num ano

19 Jun

Crédito habitação: prestação da casa fica 35% mais cara num ano

O crédito habitação em Portugal não para de encarecer. Um dia depois de o Banco Central Europeu (BCE) anunciar mais uma subida das taxas de juro diretoras em 25 pontos base, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que a taxa de juro no conjunto de contratos de crédito habitação foi de 3,398% em maio, o valor mais elevado desde junho de 2009. A subida dos juros tem encarecido – e muito – as prestações da casa das famílias, que atingiu os 352 euros em maio, mais 92 euros do que há um ano (+35,4%).

Olhando para o conjunto de contrato de crédito habitação, o INE conclui que a prestação da casa, em termos médios, fixou-se em 352 euros em maio, mais 11 euros face a abril. Esta é a segunda prestação mais elevada registada pelo INE desde 2009 (série disponível) – a de maior valor foi observada em janeiro de 2009, de 361 euros, revela o instituto no boletim publicado esta sexta-feira, dia 16 de junho.

Comparando com o período homólogo (maio de 2022), a diferença é de 92 euros, o que significa que a prestação da casa subiu 35,4% em apenas um ano. E este crescimento deve-se à subida a pique dos juros: se em maio de 2022 os juros representavam apenas 16% do valor médio da prestação (260 euros), em maio de 2023 passaram a representar 51% da prestação (352 euros).

Juros no crédito habitação em máximos de 2009

Também a taxa de juro implícita no conjunto de contratos de crédito habitação tem subido a grande velocidade à medida que o BCE decide encarecer a taxa de refinanciamento – ontem elevou-a para os 4%. Isto porque as suas decisões têm impacto em sentido ascendente nas taxas Euribor e na oferta de juros nos créditos habitação da banca (taxa fixa e mista).

Em resultado, os juros para a totalidade dos contratos de crédito habitação – com capital médio de dívida de 63.169 euros em maio (+197 euros que em abril) – subiram 3,398% em maio, um valor superior em 28,8 p.b. face ao registado no mês anterior (3,110%). Segundo o INE, este é mesmo o valor dos juros mais elevado desde junho de 2009.

Sem surpresa, os contratos de crédito habitação mais recentes, celebrados nos últimos três meses, são bem mais caros a todos os níveis:

  • taxa de juro foi de 3,882%, o que traduz uma subida de 20,7 p.b. face a abril, atingindo o valor mais elevado desde agosto de 2012.
  • o valor médio da prestação da casa fixou-se nos 591 em maio, subindo um euro face ao mês anterior e 51,2% face a maio de 2022.
  • o montante médio em dívida foi 124.065 euros, menos 1.669 euros que em abril.

Subida de juros pelo BCE tem efeitos na inflação em Portugal

Apesar das decisões de política monetária do BCE acabarem por encarecer o crédito habitação das famílias, esta é uma medida que tem como objetivo maior descer a inflação no espaço europeu que está “demasiado alta”. E tem também efeitos em Portugal, por via do arrefecimento da procura e do investimento.

Tendo em conta este contexto macroeconómico, a diminuição das pressões inflacionistas externas, bem como o impacto da redução temporária do IVA, o Banco de Portugal (BdP) melhorou a sua previsão da taxa de inflação de 2023 para 5,2%. E assume no Boletim Económico de julho, publicado esta sexta-feira, que a inflação em Portugal encontra-se numa trajetória de redução desde o final de 2022.

Estas previsões comparam às do relatório de março, que apontavam para uma taxa de 5,5% este ano, de 3,2% em 2024 e de 2,1% em 2025.

A revisão em baixa da inflação em Portugal em 0,3 pontos percentuais (pp.) é explicada “com menores pressões inflacionistas externas e o impacto da redução temporária do IVA para alguns bens alimentares a serem parcialmente compensadas por maiores pressões internas sobre a componente de serviços”.

O BdP explica que em 2023, o abrandamento dos preços deverá resultar das componentes mais voláteis do Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor (IHPC), “refletindo essencialmente a redução esperada do preço das matérias-primas energéticas e alimentares nos mercados internacionais.

Por outro lado, a redução da inflação excluindo estes bens – a inflação subjacente – será “posterior”, como resultado de “efeitos indiretos desfasados com origem nas componentes voláteis da inflação e por pressões associadas ao aumento dos salários e margens de lucro”.

“A maior restritividade da política monetária, num contexto de expetativas de inflação ancoradas, deverá implicar a convergência da inflação no final do horizonte para valores compatíveis com o objetivo de estabilidade de preços e próximos dos projetados para a área do euro”, assinala.

Fonte: https://www.idealista.pt/news/financas/credito-a-habitacao/2023/06/16/58305-credito-habitacao-prestacao-da-casa-da-o-salto-de-35-num-ano